" A comunicação é um pouco como o amor, faz o mundo girar, mas ninguém sabe realmente como funciona ", Mikael Krogeres em O Livro da Comunicação.
A comunicação em saúde é essencial para o desenvolvimento e implementação de uma prática centrada na pessoa (PCP) e vital na prestação de cuidados de saúde de excelência. A implementação de uma comunicação efetiva e centrada na pessoa garante a melhoria de outcomes clínicos como dor e função para além de potenciar a satisfação e adesão ao tratamento por parte da pessoa (Hashim, 2017a; Hutting et al., 2022).
A comunicação em saúde deve ser mais prática que teórica e por isso este texto não é técnico, mas sim prático. Não será focado em reflexões, teoremas e dilemas. Não é de todo um texto para ler enquanto coloco o meu corpo em modo avião e fingir que estou a ser um profissional de saúde aprumadinho a degustar evidência científica gourmet.
Se historicamente estamos habituados a pensar na comunicação como algo inato, a verdade é que tal como as hardskills, as competências em comunicação podem ser aprendidas e desenvolvidas. O fisioterapeuta deve ser um camaleão que adequa a forma e o conteúdo que pretende comunicar à pessoa cujos seus globos oculares fintam, deve usar o seu corpo como uma expansão da comunicação verbal potenciando os ganhos em saúde.
As pessoas preferem uma comunicação que seja centrada em si, e existem algumas técnicas que podem ser utilizadas para o conseguir e tornar a comunicação mais efetiva (Hashim, 2017b). É da responsabilidade do profissional de saúde garantir a aquisição e o desenvolvimento de competências na área da comunicação.
Nesse sentido, hoje vamos abordar dois aspetos práticos e típicos de qualquer encontro terapêutico : a entrevista clinica e a criação de empatia.
Entrevista Clínica
A entrevista clínica deve sempre começar com a apresentação de todas as pessoas presentes no encontro clínico. Isto inclui o fisioterapeuta, a pessoa e eventualmente algum acompanhante desta. Pode parecer intuitivo, mas uma grande percentagem de profissionais de saúde não se apresenta. Isto é tão mais verdade que há inclusive uma campanha para tornar este um hábito dos profissionais de saúde e garantir que estes não falham um passo elementar da comunicação. A campanha my name is é exatamente sobre isso, e pode conhecer um pouco mais de como começou e da sua missão no seguinte link (https://www.hellomynameis.org.uk/the-play/).
Mais ainda, durante a apresentação da pessoa, mais importante que saber o nome, é perguntar qual o nome pelo qual gosta de ser tratado. É fundamental em pessoas que tenham dois nomes, mas claramente não gostam de um deles, ou eventualmente até preferem que se use um diminutivo. É um pormenor que as pessoas valorizam imenso e ganhamos logo uns pontos extras.
Viajando do início para o fim, é costume terminar a primeira sessão com uma pergunta: “Então agora quando chegar a casa e lhe perguntarem o que é que o Ricardo disse, o que lhes vai dizer?”. Assim consigo simultaneamente voltar a relembrar a pessoa do meu nome, consigo explorar o que ela retirou da sessão e sobretudo o que valorizou mais.
Empatia
Uma das prioridades da PCP é a tentativa que o profissional de saúde deve fazer para entrar no mundo da pessoa e de ver a doença pelos seus próprios olhos. A perspetiva da pessoa acerca da sua condição deve incluir a exploração de sentimentos, de emoções e de preocupações.
A exploração das emoções faz parte da recolha da informação e é uma excelente oportunidade para criar conexões verdadeiras e sentidas com as pessoas. É um facilitador e devemos planear de forma cuidada e objetiva quais as emoções e sentimentos que queremos passar à pessoa nos vários momentos da sessão, tal como planeamos o número de séries e repetições de um determinado exercício.
Na tabela seguinte podem encontrar dicas verbais que potenciem a possibilidade de compreensão da perspetiva que a pessoa tem acerca das emoções, as preocupações para com a da condição e as expectativas que tem em relação ao encontro clínico.
Espero que após a leitura do texto possam utilizar estas dicas durante a vossa prática clinica e ver o impacto que as mesmas têm na pessoa. Há que quebrar as aderências de que a comunicação é algo inato, arregaçar as mangas, tirar o pó aos artigos e começarmos a dedicar tempo ao estudo de pequenos pormenores que fazem toda a diferença na individualização e na personalização dos cuidados.
Bom restinho de semana
Ricardo Vieira